Querido diário... (5)

Quinta página. 
Este é o quinto dia do ano. A véspera do Dia de Reis. Um dia de chuva e tempestade. O dia em que o Eusébio morreu. O king morreu e as homenagens multiplicaram-se nas televisões, nos jornais, nas redes sociais e nos estádios, um pouco por todo o mundo. Morreu aquele que é considerado um dos maiores futebolistas de sempre e aquele que levou o nome de Portugal além fronteiras há muitos anos atrás. Por entre os elogios e ovações, surgem pequenos suspiros impacientes daqueles que, mesmo respeitando a morte de um grande homem, consideram que todo o mediatismo em volta do acontecimento é puro folclore. Folclore porque vai para além do que poderia ser considerado "aceitável", por causa do tempo de antena nos noticiários ter sido dedicado na sua (quase) totalidade à morte do futebolista, por causa da imediata reação do Presidente da República ou pelos 3 dias de luto decretados. Eusébio tinha grandes qualidades e ninguém nega isso. Nem mesmo Mário Soares. A questão que se impõe e que está a gerar discussão por todo o país é o destaque que esta morte teve quando comparada com outras que, à partida, seriam igualmente destacáveis. Surgem comparações do discurso de Cavaco Silva aquando a morte de José Saramago e medem-se reações.
Há quem considere mesquinhice e desrespeito surgirem discussões deste tipo nestas situações. Mas há também quem considere que esse mesmo respeito se deve exigir em igual nível, não havendo distinções entre jogadores de futebol, escritores, médicos, artistas, políticos ou qualquer outra personalidade. Mas, na verdade, não se pode exigir aos meios de comunicação social que sejam imparciais quando vivemos num país que desde há muitos anos se rege e glorifica os seus três maiores pilares: Fado, Futebol e Fátima. Já o Presidente da República... exija-se tudo. Afinal, é o maior representante da nação.

5 de Janeiro de 2014